Tuesday, March 27, 2007

Casa

Hoje me ocorreu um fato estranho. Senti saudades de casa.

"Ora, mas todo mundo sente saudades de casa de vez em quando".

Sim, mas senti saudades de casa DENTRO de casa.

Estava pra sair para o trabalho, quando fui despedir-me da Filha. Sentei ao seu lado por alguns instantes e me peguei mirando o quintal de ardósia, que conheço há mais de duas décadas.

Estava vazio, exceto por algumas folhas da parreira espalhadas pelo chão. E silêncio.

Senti um aperto estranho, um vazio no peito. Enorme, lascinante, pura agonia. Me senti completamente só. Quer dizer, senti que eu e a Ártemis, naquela casa, estávamos completamente sós.

A casa que há alguns anos abrigava tanta gente que não se podia atender um telefonema com privacidade. De Natais passados, onde encontrava todos os primos, tios, tias e mais um bocado de gente. De dias de calor, de banhos de mangueira, de alguns gatos na porta da cozinha, da macarronada com arroz e feijão que só Dona Dila sabia fazer.

E me peguei assim, com um nó na garganta que me sufocava.

Senti a casa vazia. Pela primeira vez em muito tempo. Foi como um longo filme passando diante dos meus olhos. E sei que a Art sente também, muito mais do que eu.

Pela primeira vez, senti falta de casa. Mas não do lugar onde se mora, e sim do lar; que consiste em todas as pessoas que por lá passam e lá convivem. Senti saudade das conversas animadas das seis cajazeiras, das conversas loucas dos tios, da peruca de um outro, da magreza e do "mau-humor" brincalhão do que já se foi. Senti falta do Passat branco, do pão de cebola, das guerras de almofada, dos pique-pega, dos aniversários e churrascos.

Senti falta do meu pai, da minha mãe e do meu irmão. A verdade é essa. Mesmo convivendo(com certa freqüência) no mesmo espaço e morando na mesma cidade, a uma distância de 15 minutos uns dos outros.

Pela primeira vez em muito tempo, acho que voltei à realidade. Como mudamos e nos tornamos o que somos hoje.

Senti falta de mim também. Não de quem eu fui, nem de quem poderia ter sido; mas do que poderia ter feito. Muita coisa passou e muitas coisas ficaram não ditas, coisas que lamento profundamente até hoje.

E agora estou aqui, experimentando a minha realidade. Não quero nada além do que mereço e do que posso arcar. E fico também com a minha saudade. Faz bem chorar um pouco e acho que já tive a minha cota de hoje.

Agradeço a Deus cada instante passado ao lado dessas figurinhas que fazem os meus dias mais leves e as noites mais cheias de pêlos.